quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um Tempo Remoto. Um Tempo Passado.



Houve um tempo que toda minha atmosfera era leve e minhas alegrias uma litosfera rígida, altamente sólida. O riso era tão fácil, chorar curava tudo e quando qualquer desgosto chegava sempre me abria para um abraço. Um tempo que era bonito demais, que eu corria por toda a rua, brincava só com o vento e escondia-me nas árvores, vencendo o medo de alcançar os galhos mais altos. Nesse tempo escrevia com o coração, dando irrelevância a ortografia e narrando palavras que cancionavam os sentimentos que pediam para sair da alma. Tempo em que as tardes eram longas e a gastava realizando competições com outras criaturas risonhas - podendo ser gente ou não. Um tempo que acreditava nas pessoas e as amava sem impor barreiras, suplicando para agrupar o máximo de humanos para meu lazer e minha necessidade infantil: a alegria. Um tempo. Tempo que não sabia o que era defeitos e não os via nos meus amores, na minha gente. Tempo em que abraçava meus convivas e não criticava qualquer erro, qualquer pecado, não os vendo como alma aprendente, mas como gente que me amava, me cuidava, mesmo carregando suas mazelas. Nesse tempo não me importava com os títulos e com as precisões de ser um bicho social: bastava-me as árvores, um dia sem chuva e um bicicleta veloz para descobrir novos caminhos. Tempo que meu corpo e alma pedia a arte e exigia que materializa-se


no palco, nas folhas, na vida.


Houve um tempo. Aquele tempo. Tudo límpido, uma candura sem fim, uma amor sem igual, que não sabia  a semântica do preconceito e do julgamento... tempos remotos, tempos passados, que guardo dentro de mim e tento deixar  renascer nesse tempo de seca, onde meu choro não mais me cura, não sei dar mais abraço e não sei qual é a estrada do amor. Nesse tempo de agora, que não deixa retornar o outrora e me faz não perdoar o defeito dos meus. Meu tempo de ceticismo, onde não há mais atmosfera, só uma litosfera que enrijeceu por demais e impôs que me fizesse infiltrável. Ah! um tempo tão lindo! que podia voar, gargalhar e só desejava ser um belo riso. Houve esse tempo e, nas reminiscências de minha rotação,  lembro-me dele, alegre, dando adeus pra mim e gritando que ele é meu, mas não volta mais pra mim.




3 comentários:

  1. Legal, Daiane.
    Você está em busca, e isso é muito bom.
    É vida, vivida.
    Permita-me seguir seu blog.
    Abs.

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  2. Daiane,
    Desejo completar o que disse acima.
    Faltou dizer que também estou em busca.
    Desculpe.
    Abs.

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  3. Que prosa poética mais encantadora...
    Seu texto me fez voltar no tempo, reviver esse tempo e desejá-lo de volta assim como vc!! Parabéns!!

    Abraço!!

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