segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Política Mistificada do Brasil.





Mais uma vez o grande ciclo político é concluído, finalizando a gestão de vários políticos que colocam o cargo que ocuparam temporariamente (eleitos pelo povo), à disposição para que novos eleitos, que farão parte da nova cúpula do Poder Executivo, executem suas atividades e os programas sociais apresentados e determinados pela população como eficientes para as dificuldades encontradas em todos os municípios, Estados e país. Novos candidatos (nem sempre) e apresentação de seus  projetos e objetivos no governo são demonstrados à todos que acompanham as mídias sociais e buscam sanar suas dúvidas sobre por qual membro ou partido escolher. Com o surgimento da democracia, defendida pelo filósofo Péricles na antiguidade, baseado no princípio da isonomia:  todos são iguais perante a lei,  a integração e  participação do povo na escolha de seu governo e governantes tornou-se um meio justo e igualitário de decisões que afetam toda a coletividade. Por isso,  temos o voto como uma ferramenta de poder para valer os direitos e deveres de forma individual e coletiva. O dever de votar está relacionado com o direito que o cidadão tem enquanto ser social e cultural, optando por aquele que, em sua crença, poderá gerir com inteligência os variados impostos destinados para administração pública. Nesse processo curto, de escolha de candidatos, o político vende seus ideais, seus desejos e o povo compra o material que melhor lhe apresenta (ou representa). A barganha, é de extremo valor entre muitos candidatos e eleitores. Os homens, apesar de conhecerem e enaltecerem a democracia, são frutos irrefutáveis do sistema capitalista, por isso, suas escolhas, em maioria, estão baseadas no ganho oferecido pelo sistema de votação. Nesse sentido, cada cidadão busca a política idealizada como correta e necessária ao crescimento social, mas também a política que auxiliará seu pequeno sistema individual. O cidadão estudado, com ampla  oportunidade de trabalho e remuneração, estável em todas atividades que regem sua vida, define a política de forma científica, compreende os mecanismos de gestão pública e tem visão aguçada e precisa sobre a política e políticos. Já o homem pobre enxerga o político como o "fazedor de favores"; ao seu ver o político é um homem bom e caridoso que concede emprego, que disponibiliza remédios e alimentos, e meios para atenuar a pobreza e privações da classe baixa. O pobre, direcionado pela sua pouca instrução técnica e manipulados por políticos corruptos, conceitua o político como um Deus que presta caridade e não como um gestor dos inúmeros impostos que eles pagam para o governo.








A grande massa da sociedade endeusa o político, o valorando como o homem bom, que presta auxílio ao coletivo. No mundo contemporâneo o político não é um admistrador do Estado: ele é um Deus. O cidadão não reflete sobre o fato que o político deve ser (e é) um trabalhador comum, que tem como tarefa administrar o dinheiro provindo do contribuinte e de acordo com o bem comum, trabalhar em prol do desenvolvimento de todas as áreas sociais. Os adornos mesquinhos e vaidosos que são atribuídos aos políticos devem ser aniquilados para retirar a venda que a tirania e a centralização do poder colocou nos olhos de muitos cidadãos. Os candidatos, se aproveitam como parasitas das carências sociais e emocionais dos homens, reforçando a imagem de salvadores  e, quando palestram sobre suas táticas de governo, destricham amorosidade, ideias futuristas e humanistas. Constroem sua política na base do desrespeito com seus concorrentes, mostrando desde o início, que se for preciso alcançar sua meta  desrespeitando e agredindo o concorrente, fará sem nehum pudor. O que será, então, que esse mesmo indivíduo não fará posteriormente com toda a sociedade quando ela representar um antagonista de suas buscas? Na busca desenfreada pelo poder, os vídeos, slogans e visitas usados por cada partido têm sempre um ar maternal. Dilma é uma mulher forte, guerreira, que passou por dificuldades e quer ter uma chance de fazer o bem para o Brasil. Apoiada pelo Lula, o cidadão já compreendeu que escolhê-la é ter a certeza da extensão do governo de Luís Inácio. Ela vende a imagem de uma mulher para a presidência, mas uma mulher forte, que poderia alcançar como um homem (como se o sexo feminino não tivesse nenhum talento, inteligência e credibilidade para a administração pública) pontos positivos para o Brasil. Marina Silva é a "guerreira da selva". Votar nela é optar por uma mulher que já foi Ministra do Meio Ambiente, que luta e preserva a fauna e flora, o meio ambiente. Ela se ampara na consciência ambiental para conseguir seus eleitores. Serra é o Tucano (PSDB), do partido que gente elitista gosta, sendo eles os mais reacionários. Serra, em sua campanha, deixa claro que foi menino sofrido (talvez, querendo ganhar a mesma força do Lula), que estudou com dificuldades financeiras e criou a medicação genérica como forma de viabilizar saúde pública para o povo. É o homem que tenta chegar ao sentimento do pobre (como todos os demais candidatos), que penalizado com uma pessoa que são como eles, sofreu, passou fome, mas superou. Em sua campanha deixa extremamente claro que auxilia os dependentes químicos, criando para os mesmos institutos de recuperação. Todos o definem como caridoso - atitude padrão de todo político. Ocorre que todo político utiliza-se das contribuições do povo para administrar e gerir uma sociedade, mas poderia isso ser definido como altruísmo? Recompensado por votos? Um governo que utiliza os impostos do povo para criar um sistema de saúde eficaz, educação de qualidade e oportunidades de crescimento material, é caridoso? Se toda administração pública é impulsionada pela contribuição financeira do povo, por que definir o político como Deus ou "fazedor de favores"?






Os candidatos criam circunstâncias que atingem emocionalmente os cidadãos. Tudo que ataque as necessidades do homem, constroem o poder do candidato. É sumamente relevante abraçar o pobre, fazer carinho no idoso, beijar a criança desnutrida, visitar escolas públicas e apalpar a mão dos adolescentes e mostrar, mostrar, para que todos memorizem, que ele pode gerir o Brasil. O que também é extremamente valorizado, é vestir-se de um personagem, que irá caracterizar o futuro governante. Por isso, comumente conhecemos antes dos próprios projetos do político termos como: sou o pastor ou eclesiástico tal (apelo religioso que certamente leva os fiéis da igreja votarem), sou o professor tal (apelo educacional, busca a camaradagem dos estudantes e quem acredita na relevância da Educação), sou médico (apelo saúde, estudei para ajudar o próximo)... e assim, os personagens variam, empobrecendo o objetivo maior da política: gestão, direito e cidadania para todos. Dentro das campanhas há, também, o gasto abundante de papéis, sujando as ruas, denegrindo a natureza, usando o material retirado de árvores de forma vulgar e supérflua para divulgar o número do candidato (como se não pudéssemos anotar perante o monólogo da tv).







O homem, que acredita estar vivendo na "democracia", não percebe que vive, como disse Nietzsche, numa sociedade de rebanho, onde é orientado para onde o pastor quer. O voto é obrigatório, mas candidatos sensatos, preparados e estudados não é uma obrigatoriedade, de forma que vemos vereadores (que podem candidatar-se com 18 anos) sem o mínimo conhecimento de sociologia e gestão pública. O político deveria ser, antes de qualque fato, um cidadão esclarecido sobre todos os temas básicos que fundamentam nossa vida em sociedade, visto que seu ofício visa organizar com eficácia e saber o sistema público. Obter notoriedade por se religioso, pai de família, médico, não deveria representar absolutamente nada para os eleitores, afinal, o objetivo não é buscar perfis sociais, mas gestores éticos. Não teremos uma realidade política honesta e equilibrada enquanto não mudarmos nossa educação social sobre o que seja política e político (trabalhador comum), enquanto ainda elegermos políticos que favorecem apenas a realidade do indivíduo, mas não do coletivo. A sociedade é o resultado do comportamento do  coletivo e, quando aprimorar sua educação política e social para atuar no processo de escolha de candidatos como cidadãos coerentes, éticos e imparciais, o sistema de candidatura não será mais esse circo de piadas, sem real propósito, que ludibria os cidadãos e os impedem de escolher racionalmente e eticamente o futuro da sociedade. Portanto, se faz necessário uma nova educação do que seja política, não só mudando os objetivos dos elegidos, mas modificando a busca dos eleitores.






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