quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Medo.



                                        O Grito, Edvard Munch, 1893

                                                

Tenho medo do vazio que habita minha morada. Tenho medo desse inimigo interno. Ele não é como os outros: não explode e sempre me tem como amiga; me convence a defini-lo como normalidade, personalidade. É um vazio que nada preenche e, por isso, tudo é inalcançável. Tenho medo, pois ele é silencioso, não avisa a hora que vai gritar e exigir seu espaço. Não sei se ele vem de dentro ou de fora, ou se o fora construiu o que tem dentro ou o dentro quer partir para fora. Ele me conduz a uma angústia calada, a um sempre julgar e achar conceitos pré-definidos para o mundo. Assim, produzo, dentro de mim, com o auxílio de meu inimigo, as mazelas que minha pobre alma carrega; norteando a insegurança de negar a vida, de viver o outro e de multiplicar energias obscuras, anuviando a estrada que meus olhos passam a não enxergar. Em meio a conflitos e guerras declaradas no mundo, tenho paura desse estranho que há em mim, no meu mundo, que obriga-me a abrir os olhos e desenhar o outro, mas não permite que feche os olhos e visualize os terrenos pedregosos que guardo em minha alma. Tenho medo. Muito medo dessa criatura, que por ter só uma via (mesmo quando quer prejudicar o outro) prejudica sua própria morada: o meu eu; infestando-a de cores negras, pesadas, que impossibilitam o caminhar e a produtividade da energia geradora, geradora de uma busca  maior, a absoluta. Sinto medo, um medo que gera medo de ter mais medo e de não poder combater algo que está unido, próximo, numa coesão incessante de características que escondo em mim. Numa incoerência que finge julgar-se normal, cotidiana, que só cria, na verdade, mais uma máscara do engano, em que a reforma íntima seja considerada para o outro, não para si; em que meus inúmeros erros sejam catalogados como levianos e não provindos de meu inimigo estranho, necessitado de correção, que duela constantemente com a escassa força bondosa que percorre em mim.




É, tenho paura desse medo. Desse vazio estranho, do confronto entre a coerência e discrepância, da transição triste realizada com meus achismos. E, vivendo num mundo de lágrimas e alterações, não tenho medo do que ele me faz, mas do que faço com ele. Os erros desse mundo, não me fazem mal, não sou dona deles, mas os erros do meu mundo, do inimigo que está em mim, tremo de medo, pois sou dona dele e mandante de tudo o que sai de mim. Caminhando entre minhas dualidades, tentando encontrar um meio de sanar as gêneses de minhas contrariedades e de educar esses "eus" que guardo, desejo que esse "eu" me abandone, que permaneça fora de mim, para  extrair a condição lúgubre de minha morada e permitir que a luz possa iluminar minhas estradas e educar o fragmento de luz pequena e escondida que há em mim, nascendo a virtude, que presenteia com a sabedoria minha alma ainda tão pequena, um ser vivente no universo infinito de vidas, mas que um dia volitará permeada de amor, já distante de seus medos.