sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Eu Nasci com as Flores.



Eu nasci junto com as flores
Me misturei ao colorido delas
E não pude encontrar o meu
De tanta beleza que vi, meus olhos umideceram



Assim, todo ano de flores renasço.
Busco desabrochar com minhas aniversariantes
Desejando que nasça de mim flores diversas
Que sobrevivam no campo e também em estufas



Almejo flores raras, bravas em qualidades
Serenas em sua integridade
Mas que sejam minhas pela eternidade
Colorindo dentro de mim as minhas animosidades



Quero que minhas flores amadureçam
Que saibam abrir-se nas chuvas e no sol
Não fechando-se em cada intempérie
Que sejam flores lindas e virtuosas



Que minhas flores nasçam na primavera
Não briguem com o verão
E nem me abandone no outono.
Flores que deixei brotar com esforço



Que não me abandonem, e criem-se mais e mais em mim
Tirando-me de vazios
Preenchendo-me de saberes
E, com tudo, mantendo-me na mais bela harmonia
De um universo pleno da paz nobre, da beleza real das coisas e do mundo.




Ao meu 23 de setembro, que me deu ao mundo para nele aprender a caminhar.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ser ou Não Ser, Eis a Questão.




Ter identidade e posicionamento social é algo absolutamente complexo.
O variável não pode fazer parte do ato de ser e estar no mundo. É preciso ter passos sólidos, partido político definido, ideias determinadas e valores definidos do que seja correto e incorreto. O indivíduo sempre será definido como politicamente correto ou um imoral absorto em torpezas, será um santo ou pecador, religioso ou ateu. No decorrer da formação moral e social, o indivíduo percebe que obrigatoriamente deve definir-se integralmente para ser uma figura quadrada e visível no mundo, se não, será excluído dele. Observadora do mundo e das coisas, a mente aprende que precisa ser uma criança boa e educada, um adolescente propício a ter um excelente futuro e um adulto de sucesso, que preencha todos os requisitos de admiração social: ambição, modelo e estabilidade. O sistema exige, o homem se torna. O sistema decide a felicidade, a matéria, a escolha e permeados de tanta influência, não é percebível que tais escolhas já estavam prontas e moldadas, restando a nós somente a parte de enquadrarmos no sistema.






Ter uma profissão (de preferência com status sociais e renda elevada), uma religião cristã, que não afete e contrarie o coletivo e não questione as determinações alheias, um comportamento comum (já que o que difere amedronta psicologicamente a sociedade), são tarefas a serem cumpridas desde que o indivíduo compreende seu meio social, familiar e profissional. Na formação intelectual o indivíduo busca informação para excecutar um ofício, na formação de uma unidade familiar eles se tornam pais, mães, tios... de forma que a vida e a sociedade ensinam que, de alguma forma, definir-se através de um dado, título ou ação é um tipo de obrigatoriedade para viver no coletivo. O indivíduo se torna múltiplo, com designações, muitos papéis a cumprir, mas pensar e escolher, na sua forma mais verdadeira, não são atividades exercidas, pois não precisamos pensar. Precisamos apenas repetir valores estabelecidos, buscas repetidas e ações de cunho social e profissional que já foram idealizadas desde tempos de outrora. O porquê das nossas buscas, a importância (ou não) delas e o que seja a verdadeira felicidade, não sabemos. Não perguntamos para ninguém, muito menos para a principal pessoa interessada: nós mesmos. Ter personalidade, na visão do outro, é absolutamente fácil. Basta ser, pensar e valorar as coisas e o mundo de acordo com a maioria. Ter personalidade, dentro do patamar mais particular do espírito, exige reflexão, questionamento e racionalidade. Exige a permissão para o erro e o prosseguimento para construir o outro, a si e o mundo. Se ter uma identidade moral definida é andar profetizando convicções e certezas, creio que o convicto é um grande mazelado, proibido de pensar, modificar seus valores e poder reconhecer-se como errado, como ser que precisa ouvir e refletir para construir sua opinião baseada na análise do seus atos, pois sempre deve ser uma unidade intransformável na visão alheia.






Se o tempo continuar passando freneticamente e eu não me encontrar, formando uma opinião decisiva das coisas e do mundo, talvez seja porque não preciso achar o que os demais idealizaram para mim, sem mesmo me conhecer. Se o tempo passar e eu ainda não saber o que sou, quero e o porquê de tudo, devo aceitar que a normalidade está naqueles que são formados mais pelas dúvidas do que pelas definições. Que eu possa lutar para não ser mais uma "ficha no mundo", contendo meus registros, a profissão que escolhi, o instituto que labuto, minha renda anual, o marido escolhido, a quantidade de filhos e uma religião para frequentar semanalmente. Que eu possa me lembrar de Deus fora de um templo, fazer o certo enquanto os olhos dos demais não me alcançam e ser um tipo de gente que não acha que as pessoas só devem ser respeitadas pela sua casa, roupa  e posição que ocupam. Que eu possa trabalhar transgredindo a mediocridade, o óbvio e a necessidade do tratamento elevado, não preocupando-me com estimas, mas com o que aprendi, o que aprendo e o que posso aprender (e ensinar). Que eu possa errar e acertar, e aprender por estes dois caminhos, que apesar de diferentes, conduzem a mesma condição:aprendizagem, mas não deixe meu espírito medíocre, quieto, lapidando, diariamente, as grandes mazelas que tenho dentro de mim. Eu não sei, mas estou aberta a compreender. E é aí que começa todas as grandes jornadas. 






Literatura: A Arte do Pensar.





Muitos intelectuais afirmam que ler livros de literatura é uma atividade improdutiva, pois uma quantidade de tempo significativa é utilizada na absorção de informações que não são técnicas, específicas para formação profissional do indivíduo. Eu não acho. O que me fascina nas narrativas, dos variados gêneros, é a capacidade de caracterizarem a conduta humana e os sentimentos que regem e definem o comportamento do indivíduo. Ler é aprender ilimitadamente, infinitamente. A leitura desenvolve uma visão abrangente da vida, a identificação de signos diversos, questionamentos e reflexões que só podem nascer no ato de exercitar a mente. Um bom romance pode nos ensinar mais do que qualquer intelectual possa mensurar. A magnífica escritora inglesa Jane Austen, por exemplo, descreveu um período histórico que pôde de forma simplória ser compreendido e analisado a partir do comportamento e conduta de seus personagens, e dos valores inseridos em todas as suas obras, demonstrando a realidade da época e os hábitos da população, através de diálogos inteligentes e narrativa crítica e eminente. Machado de Assis, possuidor de uma escrita realista, crítica, linguajar erudito e preciso na construção de seus personagens, descreve a decadência da moral social e as angústia permeadas no caráter humano. Seus personagens não são heróis perfeitos e bondosos, sem qualquer tipo de sofrimento. São doentes, neuróticos, isolados, com pensamentos melancólicos e aprofundados num intenso medo de viver. Cada escritor concebeu obras de acordo com seu tempo, sua visão e as experiências que vivenciaram naquela realidade social. Nesse sentido, literatura é vida, aprendizagem e documentação histórica, mesmo que ficcional, que provocam as mentes para pensarem, criticarem e refletirem.





Embora muitos críticos e estudiosos determinem a literatura com especificidade, com características que a definem em um único gênero, tendo uma rota sempre específica, sua versatilidade é superior a padrões e delimitações estabelecidos, não podendo ser limitada ou agregada em poucos caracteres. A literatura se transforma juntamente com a história da humanidade, criando escolas literárias, estilos de época e narra especificidades dos principais momentos de transformações sociais. No livro "1984", de George Orwell, é notável o desassossego de uma homem insatisfeito com seu tempo, temeroso de seu futuro, preso nas questões políticas que vigoravam na época. Orwell, temeroso do futuro da sociedade, criou uma ficção sobre o possível surgimento de uma estrutura societária escrava e oprimida pelo sistema político, criticando admiravelmente o mundo pela voz de seus personagens. O livro é uma distopia, um grito desesperado de um indivíduo que achava seu sistema oprimido, segregado e desumano, vislumbrando um futuro caótico e tirano. Em "Madame Bovary", o intelectual Flauber nos apresenta uma mulher infeliz, infiel, que se casou por interesse social, mas não suportava sua própria  existência. Em meio a romances românticos e mocinhas puras, Emma Bovary iniciou o "Realismo Literário", em que as relações humanas eram base das narrativas, apresentando aos leitores a vida de forma explicíta e real. Tais exemplos ratificam o poder da literatura, não só para entreter, mas para questionar, ensinar, criticar e traduzir todo pensamento de várias gerações. Obras que explanam o funcionamento social da época, narram valores de variadas sociedade e servem, portanto, não só como passatempo, mas para instruir a mente e ensiná-la sobre diferentes e inúmeras questões, mesmo não sendo um texto técnico e voltado para formação profissional. Portanto, estudar textos clássicos, entrar em contato com obras de profundo valor humano, histórico e social é enriquecer as possibilidades infinitas da mente e, independente da formação profissional do indivíduo, a leitura de livros proporciona uma habilidade extremamente necessária para qualquer ofício: criticidade.





Infelizmente, por motivos de formação escolar e interesses pessoais, a literatura tem sido pouco aproveitada como fonte de reflexão e emancipação da mente humana. Se fizermos um diapasão com outras ciências, ela é definida como disciplina extra, sem prioridade e admirada por grupos pequenos, sem a devida atenção coletiva que deveria ter. Literatura é aprendizagem constante e diversificada, pois ler um livro é conhecer um novo mundo, com diferentes opções e divagações. Não continuamos a ser os mesmos após a concluir a leitura de uma obra literária. Através da leitura constante de livros, a mente desenvolve habilidades fundamentais para vida pessoal e profissional: criticidade, opinião, questionamento, racionalidade, compreensão e, sobretudo, sabedoria para entender a essência humana e diferentes tipos de comportamento social. Ler é crescer e a leitura é necessária para formação profissional e pessoal, não sendo conveniente aniquilar uma em detrimento da outra, mas buscar ambas para o aprimoramento intelectual e moral do caráter humano, acrescentando, assim, tanto valor profissional quanto valor pessoal na construção da personalidade.






A escrita, leitura, literatura despojam o homem de sua ignorância e  achismo, o despertando para um patamar superior a definição de espaços, tempo e tradições. É viver além dos limites que a ele são imputados, tornando seu intelecto absolutamente mais importante que as designações que são socialmente impostas como necessárias felicidades. Ler é crescer.