quarta-feira, 19 de junho de 2013

Manifestações Contra a Copa: A Coerência da Reforma Social Mediante Métodos Irascíveis.





  " Imagens de manifestantes, por todo país, reivindicando o absurdo dos investimentos revertidos à copa, em detrimento de necessárias melhorias em diversos setores sociais".
                                    



O investimento excedente e inapropriado que o Brasil utilizou para a realização da "Copa das Confederações" e posterior "Copa do Mundo" suscitou no povo, em sua maioria, revolta e indignação diante projeto que encaminhou soma considerável do dinheiro público para uma empreitada que não oferece ou condiciona nenhum tipo de melhoria para a saúde, educação, segurança pública e todos os demais setores da sociedade, essenciais para a regulação e mantimento da dignidade de vida humana. O povo, movido por profunda indignação, decidiu usar sua voz, opinião e força para mostrar para a gestão atual que não compactuam com a ideia de transferir nossos impostos, frutos de muito trabalho, para um evento que de nada adiantará para formação de uma sociedade assistida, completa e baseada na justiça social. As constantes manifestações que estão ocorrendo por todos os espaços do Brasil foram fundamentadas na necessidade de apresentar ao governo que há brasileiros conscientes, sóbrios das nossas reais carências. Junto a indignação da realização das copas, outras reivindicações, também, foram incluídas nas manifestações, a fim de solicitar direitos em outras áreas e funções sociais.





As manifestações, de fato, surgiram com a genuína necessidade de mudança social. Surgiu com a vontade de brasileiros sensatos e racionais desmistificarem essa medíocre ideia de "País do Futebol", como se tal menção fosse enriquecer ou colocar o Brasil em patamar de superioridade ou subtrair as crises sociais que enfrentamos diariamente. Infelizmente, as manifestações, que deveriam ser sumamente baseadas em diálogos, opiniões e ordem, estão se tornando um evento de puro vandalismo, criminalidade e desgastes sociais. Como pedir paz, fazendo guerra? De que maneira o vandalismo, a destruição de imóveis, edificações e locais públicos, contribuirão para mostrar à atual gestão a nossa discordância à corrupção, aos gastos com a copa e a falta de estrutura social para sermos assistidos, auxiliados e respeitados? Não há como. O retrato, na verdade, está demonstrando um povo ainda despreparado para lutar por mudanças sociais, que está tão cansado, que utiliza-se da força física para solicitar uma forma de vida que já não suporta mais não ter: estabilidade. Nesse panorama até a classe alta, principal comparsa na desigualdade e má distribuição de renda, se mostra favorável a mudanças que, por esforço próprio, nunca fizeram. Artistas, aproveitando dos holofotes, postam em seus sites de relacionamento menções sobre a manifestação, como se estivessem contribuindo para reforma social do país, com simples postagens e dizeres. As manifestações, inicialmente politizadas e agregadoras, tornaram-se um circo de hipocrisia e alienação. 





O fato é que o principal motivo que desencadeou as manifestações foi a incoerência de um país de fragilidades sociais, carente em todos os seus setores, e necessitado de investimento e melhorias, receber um evento que causa mais prejuízos do que benefícios. O esporte, obviamente, é importante para o desenvolvimento saudável do indivíduo, mas não posso concordar que exista algum benefício social, político e educacional do esporte na vida da sociedade como um todo. A idolatração em torno do futebol, no Brasil, tornou-se um fator negativo para nossa emancipação enquanto país em desenvolvimento. Que cidadão racional poderá concordar com a renda absurda que é revestida ao futebol e a jogadores, enquanto cientistas, professores e trabalhadores de diversos setores sociais, vivem com renda precária e desprestígio social? Vivem, na verdade, motivados mais pela paixão pela ciência, pelo educar e melhorar do que visando uma estrutura de vida de qualidade material e social. O dinheiro investido para melhorar e equipar estágios, proporcionaram a amarga sensação da construção de escolas, hospitais, centros de estudos... E, ainda, os cidadãos de classe baixa, apesar de terem financiado a inútil construção desta superficialidade moderna, em sua maioria, não poderão sequer custear os ingressos para assistirem os jogos, pois o valor dos ingressos selecionaram a classe média e alta como espectadores. 





Além da incoerência do Brasil receber as copas, as mídias sociais frequentemente explanam uma preocupação leviana e vulgar: como iremos receber os estrangeiros? O Brasil está preparado para recepcionar estrangeiros, sendo este país de índio? Brasileiros de formação alienada, desvalorização social e preocupados não com os malefícios das copas, com tanto dinheiro investido na conquista de um título, mas em não "fazer feio" para estrangeiro. Um jornal de renome nacional, tem como pauta a copa e a qualidade do setor de turismo para recepcionar europeus e afins. A imprensa, que deveria informar criticamente e elucidar a situação como um todo, restringiu seu papel em mostrar as futilidades de uma elite alienada e tola, que insiste em marginalizar e segregar seres humanos. Apesar de tantos transtornos, erros, manifestações, hipocrisias e opiniões insensatas de pessoas que pouco colaboram para o desenvolvimento positivo do país, há um fator extremamente importante e positivo nesses movimentos: o desejo de reforma. Reforma social, política, educacional. Reforma do próprio método do formação individual e coletivo. O caminho, ainda, está "torto", mas não quer dizer que nós, como povo, não estamos nutrindo o principal princípio de reforma social: vontade. E é essa vontade de mudar que proporcionará novos caminhos, definições e conscientização do que seja coerente enquanto indivíduos e coletivos. Que essa vontade inicie um processo de mudança, transformando o país do futebol em um país de igualdade e justiça social. Pois este, sim, é o título que temos que carregar com orgulho e admiração.