sábado, 10 de novembro de 2012

Formação Técnica e Formação Humana.




                                    Operários, Tarsila do Amaral - 1933



A quantidade adquirida de informação técnica e específica para formação de cada profissional, tornou-se a principal e mais pertinentemente característica requisitada para definir um profissional como preparado e extremamente habilidoso para realizar as funções atribuídas ao seu ofício que, no setor público ou privado, prestam serviços para população, confirmando, em absoluto, que a contemporaneidade forma um aglomerado de trabalhadores aptos a decorar, compreender o sistema e mecanicamente repetir as funções que a eles são designadas, mas nem sempre refleti-las e analisá-las para melhores avaliações e construção de novos parâmetros e novas formas e métodos de desenvolvimento profissional. A atual estrutura educacional preocupa-se com a formação de dados, que prepara tecnicamente, através de estudos, graduação, pós-graduação, cursinhos e vários cursos de aprimoramento, bons professores, médicos, promotores, advogados, cozinheiros, licenciados, bacharéis, etc., mas não oferece uma formação plenamente humana e racional. Tal fato pode ser absolutamente observado na multiplicação das unidades de cursos preparatórios para concursos e carreiras dispersados pelo país, na qual os estudantes recebem diariamente grande formação intelectual "decorativa", compreendendo como se estrutura a prova, sua forma objetiva, subjetiva, interpretativa, mas não se aprofundam na função social da carreira escolhida, sua ação, efeito e transformação a nível individual, coletivo e até mesmo pessoal.








As dificuldades existentes atualmente para atuação profissional, muitas vezes, se inicia para o profissional nos critérios de avaliação no início de carreira. Quando a sociedade solicita ao profissional respostas feitas e decoradas, a avaliação objetiva e subjetiva torna-se algo simplório para cada mente que fora habilitada para realização do feito, do prático; mas quando é exigido do profissional uma entrevista clara, solicitando a sintetização de informações pessoais, técnicas e humanas, logo ele se perde, acreditando que dominado pela ansiedade, aniquilou a perspectiva de contrato e de oportunidade de carreira, mas, mais que a ansiedade, é falta de conhecimento humano sobre a mente, as pessoas e a sociedade que limitam os indivíduos para atender, entender, somar e transcender os limites estabelecidos por cada área de trabalho. Tal observação, pode ser comprovada pela avaliação textual que, quando requisitada, é considerada a parte mais complexa da prova, visto que o texto é criação íntima, nova e totalmente original. Um produto nascido na hora. Um produto novo. Uma avaliação que não pode ser decorada, mas explanada de acordo com o pensar do indivíduo. A formação técnica comumente vem sendo aplicada em todos os setores e funções sociais, em decorrência deste fato, há muitos médicos aptos a realizarem notáveis diagnósticos e prognósticos, que destrincham ao paciente sobre patologias e seus efeitos, mas, entretanto, profissionais totalmente vazios e despreparados para dialogar com o paciente, compreender seus medos, anseios e impossibilitados de fornecerem um tratamento, acima de ser técnico, extremamente humano e eficaz; observamos, também, profissionais do Direito argumentarem sobre justiça sempre baseada em alguma lei, defender a importância das leis, mas, quando não há leis e artigos para se protegerem, as palavras tornam-se sem sentido e a justiça, impregnada em artigos e incisos, torna-se tão técnica que fica retida no livro e não no humano, resultando que muitos cargos públicos sejam administrados por indivíduos formados por cursos, regras e literatura extensiva, mas não humana, reflexiva e convidativa a adaptar novos programas solidários e inteligentes ao coletivo.







Observamos, também, professores limitados aos conceitos de formação intelectual, tendo que lutar contra o tempo, ou melhor, meros quatros bimestres, para lecionarem todas as matérias, narrar todo conteúdo que "vai cair na prova" que, infelizmente, são desprezados pelos próprios educandos quando, ao terminarem a avaliação, liberam o cérebro de retê-la como conhecimento, desgastados pela formação mecanicista e decorativa fornecida pelas instituições educacionais. Seja em qualquer das três grandes áreas de atuação: humanas, extatas e saúde, a educação forma-se continuamente em um emaranhado de informações técnicas, que nos preparam para carreiras que, como todas, são extremamente necessárias e primordiais para manutenção e funcionamento do Estado, mas sem qualquer habilidade superior a conceitos, regras e argumentos. Como resultado, há profissionais medíocres, definidos como excelentes profissionais, orgulhando-se por arquivarem tanto conhecimento; tanto que em paralelo há outros profissionais sentem-se vaidosos e diferenciados, conceituando-se como doutores ou doutoras, como chefes aptos e profissionais valorizados, mas com o padrão humano e social totalmente escasso e medíocre, que os impossibilitam  enxergar além dos números, dados e cientificações; os impossibilitam de criar, recriar e gerir o novo, o humanizado e usar sua racionalidade para projetar o que cada área de trabalho pode fornecer a população (muito mais que serviços burocráticos e temas decorados).







Trabalhar para que a formação intelectual seja integralmente humana, não é descaracterizar a técnica, a desprezando em um patamar inferior ou longínquo, mas fazer com que dados técnicos, ao invés de serem sistematizados e decorados, sejam, também, pensados e questionados sobre sua eficácia e igualdade no atendimento ao coletivo. É trabalhar para que professores sejam pensadores e propagadores do conhecimento e não máquinas de repetição de conceitos, que advogados e promotores sejam analistas da justiça, não a limitando em um artigo, mas sabendo dispersá-la para todo o povo, o atendendo com integridade e em consonância com a igualdade, justiça e fraternidade, e não evidenciando a carreira por uma indumentária, linguajar gramaticalmente formal e definindo títulos como qualidades e confirmação profissional. Enquanto não nos transformamos para a real preparação profissional: técnica, humana, reflexiva e solidária, sem vaidades pessoais em seu ofício, ainda continuaremos a ver essa excedente quantidade de profissionais formados, totalmente técnicos e mecanicistas que, durante sua formação intelectual, frequentam cursos, decoram termos, repetem as habilidades necessárias para realização de cada ofício, mas não conseguem penetrar na razão humana, no pensar aguçado e na arte de criar e determinar novas fórmulas, aspectos, programas, ensinos e proporcionar novas fontes de conhecimento para o cidadão e o mundo. Nesse sentido, se faz necessário a criação de um novo entendimento do que seja trabalho e seu real valor na sociedade, formulando um tipo de formação meramente técnica, mas plenamente reflexiva, questionável e investigadora do novo, do produtivo e transfomador, a fim de aniquilar a ideia perniciosa e pobre do que seja ser um profissional, do que seja a razão de cada profissão e, assim, criar o benéfico, atuante, pensador e transformador profissional moderno: que humaniza a educação técnica e sabe que o verdadeiro conhecimento é sempre uma busca e nunca a determinação de ideias decoradas e estagnadas na percepção nula de todas as coisas.