sábado, 14 de janeiro de 2012

Doenças Carnais e Doenças da Alma.


                             

"E assim como o casulo é forma disforme e precária, que prepara e guarda o surgimento da borboleta para ser  livre, bonita e plena na natureza, assim, também, é o corpo, somente uma preparação para o encontro da liberdade e amor eterno".



Há poucos dias, deparei-me com uma jovem, rica, bem-sucedida e responsável por uma função admirada na sociedade, cuja ação e comportamento afeta a vida dos outros. Um trabalho definido como superior, em que tratamentos de resignação (quase um sempre cuvar-se) deve ser feito para mesma, para fins de sentir-se superior e respeitada. Esta moça, viva e ávida por comandar, teve notícia deveras triste, que a informava sobre sua nova condição orgânica em consequência de uma alteração fisiológica: estava doente, sofrendo risco de morte. Seu corpo físico, ficara disforme, não apresentando a beleza de outrora; sua disposição fora subtraída e seus sonhos colocados em posição reflexiva e insegura, temerosa de seu futuro, do que poderia acontecer. Diante da fragilidade de uma vida que está fluíndo de suas mãos, de um corpo que já não lhe servia como antes, a revolta, solidão e raiva tomaram uma forma bem maior que sua própria doença. Ela cedera as suas limitações, permitindo, de forma excedente, que suas mazelas se multiplicassem na alma. Todos a olhavam. Olhavam e sentiam pena do que viam. O ser humano, acostumado a reduzir as emoções, experiências e vida aos elementos carnais, pensam que, sem corpo, não há mais vida, não refletindo que o ato de pensar, indagar e sentir, não é consequência de células inteligentes, mas sim, de uma alma inteligente, que pensa, indaga e reflete sua realidade.





O indivíduo sente pena de um corpo doente, uma célula disforme, da deficiência física e mental. Sente compaixão por tudo que impede o corpo de desenvolver-se de forma comum, mas não sentem pena da famílias de sentimentos que deixamos nos acessar, nos empobrecer e das mazelas que carregamos na alma. A arrogância, maldade, criminalidade, egoísmo, orgulho são doenças espirituais que pouco notamos e importamos. Se pudéssemos ver uma fotografia da alma, assim como vemos do nosso corpo físico, veríamos manchas, buracos, formas disformes e feias das mazelas que nutrimos como defeitos. Veríamos que em cada comportamento maldoso, tratar agressivo e ação ignóbil, nosso  espírito adoece, como um vírus mortal para a saúde moral dessa essência inteligente. Infelizmente, não tomamos remédio quando exercemos nosso mal, não solicitamos a nenhum hospital opção de tratamento e não ingerimos mecanismos medicinais para curar nosso rancor, ódio, maldade e limitações. Ah! Se pudéssemos ver nossa alma doente pelo egoísmo e achar horrorosa nossa forma, ter pena de nossas maldades, assim como temos pena de um corte profundo na pele, de um rosto inchado pelo desequilíbrio celular e de uma paralisia que não permite a locomoção: veríamos nossa paralisia moral, nosso desentendimento cristão e a falta de sabedoria que nos deixa vazios perante obstáculos que calculamos como impossíveis de sanar e corrigir.




O corpo é determinado para vida, o espírito indeterminado e eterno para a existência. As alterações que a carne passa são necessárias para alguma parte e crescimento do espírito. O corpo morre, a alma vive eternamente, constantemente. Não devemos ter medo de uma dor aguda, uma doença crônica ou um corpo indesejável, pois ele não foi feito para existir, mas sim para uma pequena temporada de vida. O corpo é um veículo que conduz a passageira alma para regiões de amadurecimento, mas quando a alma alcança seu destino, abandona o veículo, mas sem deixar de viver, apenas continuando sua jornada em moradas superiores. O veículo é máquina de locomoção, a alma, pessoa de inteligência e vivência. Aquela moça jovem e bem-sucedida, arrogante e orgulhosa em suas atribuições, tem um corpo de fragilidades para comportar o que seu espírito necessita aprender. Através do seu indesejável corpo, o espírito pede algo que suas limitações a impedem de ver: aceitação, bondade, maturidade e humildade. Simples e ignorantes, assim nascemos. Não somos melhores nem piores que nossos irmãos de jornada, apenas aprendizes do amor e da sabedoria; aprendentes da evolução que nosso Pai nos destinou desde quando nos criou para frutificar sua intensa luz e inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 





Há poucos dias, deparei-me com uma jovem, rica, bem-sucedida e responsável por uma função admirada na sociedade. Há pouco dias, deparei-me com uma jovem de espírito imaturo, de bondade precária e com espírito mas doente do que um corpo considerado disforme. Um ser aprendente que necessitou de um organismo frágil para mostrar-lhe as reais fragilidades de seu ser: suas mazelas espirituais. Uma doença que será sua ferramenta de evolução, mas somente útil mediante o conhecimento de suas fraquezas morais, para as devidas correções, para que assim, reeducando sua conduta, possa conquistar a verdadeira saúde de um espírito: a sabedoria, o trabalho, amor e a evolução; a evolução destinada a toda e qualquer essência inteligente dispersada no universo.





quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Diário de Viagem: Cidade de Goiás.




Casas antigas, estradas de pedras, luminárias seculares; povo solícito e receptivo a novos rostos, vozes e sorrisos. Cidade de Goiás, antigo Goiás Velho, que de velho e sereno tem tudo: história, estrutura, edificações e lendas. Terra bonita, calma em sua essência, que demora para falar, andar, passar e viver. Uma pintura viva e brilhante de um povo patrimoniado intacto por seu percuso singular e pelo caminho que percorreu pelos séculos de sua existência. Cidade de Goiás (que não pode mais ser chamada de Goiás Velho) abriga lares acolhedores, arquiteturas simplórias e raras diante um mundo que corre contra o tempo e espaço e busca a tecnologia e a estética como definição de bebeza e estilo de vida. Um espaço geográfico pequeno, que transporta os seres que a visitam para tempos remotos, como se não estivéssemos na contemporaneidade, mas sim em uma local perdido no globo, onde os homens esqueceram de manipular, usar e transformar a bel prazer. Uma viagem que marca cada turista pela paixão de um lugar diferenciado, onde se contempla tudo e todos sem o cansaço natural do já conhecido e vivido.





Formado por ruelas, por pedras grandes e ruas esburacadas, andamos calmamente, sem pressa, sabendo que o ritmo frenético de outrora lá não existe, restando apenas pessoas com sorrisos largos sentadas nas portas de suas casas, em suas cadeiras rústicas, apreciando o andar dos transeuntes e vendo as novidades se apresentarem como artes que se formam todos os dias. As janelas, de madeiras velhas e cores diversas, contam para todos que lá, a violência inexiste e a confiabilidade é a lei maior. Terra bonita, de igrejas de idade avançada, de morros e estrutura disforme, como se mãos tivessem cavado e violado a terra em busca de tesouros. E, os artesantos, expostos nas casinhas, revelam uma arte local única, com características de um povo que imprime em sua arte, fala e objetos todas as tradições absorvidas por serem nascidos em região rica em cultura e memória. Ao centro, na ponte bonita que corre um rio com fluxo constante e frio ao pernoitar, vemos a casa da escritora Cora Coralina, sua moradia, vida, história e reminiscências, onde é narrado ao povo visitante o orgulho da cidade: apenas uma senhora que olhou a vida e soube a poetizar, oferecendo palavras harmoniosamente casadas para conduzir-se a alma.









Ladeiras, pedras, constrastes. Beleza e prosas alegres e amistosas. Gente simples que mesmo quando guarda muito, não criou medidas e barreiras de segregações e indumentárias. Povo esquecido, longínquo, apenas visitado e constantemente deixado para trás. Um povo que nasce abastado e acostuma-se a dar adeus e esperar por mais visitantes curiosos. Sim, uma cidade velha, por isso bonita. Um Goiás Velho que protege uma parte do que foi este Estado e como viviam àqueles que, antes de nós, deixaram estradas prontas para o desenvolvimento e para o moderno. De clima quente, mas com um sol que não machuca nem atormenta, tem um povo caloroso, alegre e comumente sereno, preguiçoso por levantar e viver de forma intensa, apenas vivendo a observar o outro, o mundo e o cenário de cores, casas e objetos que definem sem questionamentos um local que, merecidamente, tornou-se patrimônio, não permitindo que mãos indevidas violem uma construção impecável, antiga e cheia de riquezas que alegram nossos olhos ao conhecer a Cidade de Goiás, essa mesma, antes chamada de "Goiás Velho".