segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Literatura: A Arte do Pensar.





Muitos intelectuais afirmam que ler livros de literatura é uma atividade improdutiva, pois uma quantidade de tempo significativa é utilizada na absorção de informações que não são técnicas, específicas para formação profissional do indivíduo. Eu não acho. O que me fascina nas narrativas, dos variados gêneros, é a capacidade de caracterizarem a conduta humana e os sentimentos que regem e definem o comportamento do indivíduo. Ler é aprender ilimitadamente, infinitamente. A leitura desenvolve uma visão abrangente da vida, a identificação de signos diversos, questionamentos e reflexões que só podem nascer no ato de exercitar a mente. Um bom romance pode nos ensinar mais do que qualquer intelectual possa mensurar. A magnífica escritora inglesa Jane Austen, por exemplo, descreveu um período histórico que pôde de forma simplória ser compreendido e analisado a partir do comportamento e conduta de seus personagens, e dos valores inseridos em todas as suas obras, demonstrando a realidade da época e os hábitos da população, através de diálogos inteligentes e narrativa crítica e eminente. Machado de Assis, possuidor de uma escrita realista, crítica, linguajar erudito e preciso na construção de seus personagens, descreve a decadência da moral social e as angústia permeadas no caráter humano. Seus personagens não são heróis perfeitos e bondosos, sem qualquer tipo de sofrimento. São doentes, neuróticos, isolados, com pensamentos melancólicos e aprofundados num intenso medo de viver. Cada escritor concebeu obras de acordo com seu tempo, sua visão e as experiências que vivenciaram naquela realidade social. Nesse sentido, literatura é vida, aprendizagem e documentação histórica, mesmo que ficcional, que provocam as mentes para pensarem, criticarem e refletirem.





Embora muitos críticos e estudiosos determinem a literatura com especificidade, com características que a definem em um único gênero, tendo uma rota sempre específica, sua versatilidade é superior a padrões e delimitações estabelecidos, não podendo ser limitada ou agregada em poucos caracteres. A literatura se transforma juntamente com a história da humanidade, criando escolas literárias, estilos de época e narra especificidades dos principais momentos de transformações sociais. No livro "1984", de George Orwell, é notável o desassossego de uma homem insatisfeito com seu tempo, temeroso de seu futuro, preso nas questões políticas que vigoravam na época. Orwell, temeroso do futuro da sociedade, criou uma ficção sobre o possível surgimento de uma estrutura societária escrava e oprimida pelo sistema político, criticando admiravelmente o mundo pela voz de seus personagens. O livro é uma distopia, um grito desesperado de um indivíduo que achava seu sistema oprimido, segregado e desumano, vislumbrando um futuro caótico e tirano. Em "Madame Bovary", o intelectual Flauber nos apresenta uma mulher infeliz, infiel, que se casou por interesse social, mas não suportava sua própria  existência. Em meio a romances românticos e mocinhas puras, Emma Bovary iniciou o "Realismo Literário", em que as relações humanas eram base das narrativas, apresentando aos leitores a vida de forma explicíta e real. Tais exemplos ratificam o poder da literatura, não só para entreter, mas para questionar, ensinar, criticar e traduzir todo pensamento de várias gerações. Obras que explanam o funcionamento social da época, narram valores de variadas sociedade e servem, portanto, não só como passatempo, mas para instruir a mente e ensiná-la sobre diferentes e inúmeras questões, mesmo não sendo um texto técnico e voltado para formação profissional. Portanto, estudar textos clássicos, entrar em contato com obras de profundo valor humano, histórico e social é enriquecer as possibilidades infinitas da mente e, independente da formação profissional do indivíduo, a leitura de livros proporciona uma habilidade extremamente necessária para qualquer ofício: criticidade.





Infelizmente, por motivos de formação escolar e interesses pessoais, a literatura tem sido pouco aproveitada como fonte de reflexão e emancipação da mente humana. Se fizermos um diapasão com outras ciências, ela é definida como disciplina extra, sem prioridade e admirada por grupos pequenos, sem a devida atenção coletiva que deveria ter. Literatura é aprendizagem constante e diversificada, pois ler um livro é conhecer um novo mundo, com diferentes opções e divagações. Não continuamos a ser os mesmos após a concluir a leitura de uma obra literária. Através da leitura constante de livros, a mente desenvolve habilidades fundamentais para vida pessoal e profissional: criticidade, opinião, questionamento, racionalidade, compreensão e, sobretudo, sabedoria para entender a essência humana e diferentes tipos de comportamento social. Ler é crescer e a leitura é necessária para formação profissional e pessoal, não sendo conveniente aniquilar uma em detrimento da outra, mas buscar ambas para o aprimoramento intelectual e moral do caráter humano, acrescentando, assim, tanto valor profissional quanto valor pessoal na construção da personalidade.






A escrita, leitura, literatura despojam o homem de sua ignorância e  achismo, o despertando para um patamar superior a definição de espaços, tempo e tradições. É viver além dos limites que a ele são imputados, tornando seu intelecto absolutamente mais importante que as designações que são socialmente impostas como necessárias felicidades. Ler é crescer.







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