sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Rua: O Ensino da Marginalidade.


O menino era pequeno, magro, com os pés rachados e um olhar grande demais para o seu rosto. Ele corria pela rua central pedindo para quem encontrasse, um pedaço de papel que nem sabia contar. Ele estendia suas mãozinhas sujas e implorava, com os olhos lacrimejando, para comer. Cada um oferecia o que tinha. Uns, davam o pedaço de papel que chamava-se dinheiro, outros um olhar impaciente, alguns a raiva de acreditar que o menino "pidão", poderia muito bem labutar como eles. Outros, ofereciam a tristeza de ver pequena criatura tão desolada e muitos, muitos eram indiferentes. Aquela indiferença (embora o menino ainda não soubesse) iria marca para sempre sua vida. A indiferença seria sua mãe na vida, a educadora que encaminharia aquele pequeno pelo resto dos seus dias. A rua seria sua escola, e lá, aprenderia tudo que necessita para viver. No português das ruas ele iria entender que pedir, gritar e ameaçar é a linguagem precisa para realizar seus desejos. Na sua matemática, logo perceberia que só poderia somar, se tirar o que é do outro, pela geografia iria entender que casa é um espaço geográfico para poucos. Sua sociologia seria bem exata; elucidando-o de que um homem pobre é diferente, na Terra, do homem de posses. Na química das ruas, conhecerá substâncias nocivas, que não sabe o que é, mas sempre tira a fome e a revolta, presenteando o corpo com uma pseudo-alegria, já que não tem amor e cuidados. Nas ruas, o menino pequeno, se tornará um homem grande e também fará sua graduação; pegando o diploma da miséria e da corrupção de uma alma que foi treinada para mentir, gritar, roubar e agredir por toda uma geração. Quando o menino de olhos grandes já estiver graduado, irá executar o que lhe foi ensinado, querendo presentear os outros, somente com o que aprendeu: ódio, rancor e desamor. O menino não será letrado, mas a alfabetização da marginalidade ele carregará debaixo do braço, expandindo seus conhecimentos por onde passar. E, quando estiver adulto, aqueles olhares de indiferença, que tanto o olharam quando pequeno, vão sentir medo daquele bicho formado e o colocarão em grades fortes, feitas por homens de leis e saberes, que estudaram nas escolas reais, mas não sabem o que é as escolas das ruas. Aquela criatura magra, de mãos pedintes e pés rachados, só ganhou mais células, mas continua sendo o menino de olhos grandes e perdidos, com medo de ficar sozinho nas ruas, de sentir fome e desproteção, com medo, muito medo de alguém não lhe estender a mão.



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