sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ô Interior Sem Medida, Sô.



A vida nas cidades interioranas é engraçada. A rua sempre é estreita e lerda e os passos que acompanham os bloquinhos antigos, são brincalhões e param para olhar. Olhar uma primavera ou cumprimentar Dona América ou, então, para examinar coisas antigas. É uma vida sem novidades, que implora por tagarelices e cantigas, fazendo todos, na falta de uma boa história, criarem um excitante "causo". "Causo" aumentado, mas comumente, "causo" inventado, tirado dos sonhos, das glórias e vivências dos antigos. E, de uma narração aparentemente simplória, nasce animais horrendos, vilões maldosos, santas milagrosas, ervas poderosas e santificações dos que foram além. Contos que extraem risos, emoções saltitantes e a vontade de habitar num mundo distante, mas só por meros minutos, porque a rua chama para noite. Grita para brincar, para ver o luar e abraçar bons amigos que sempre estiveram lá. E no dia seguinte, o silêncio é maior, Dona América já não está mais lá. Muitos se partem e fico aqui, só, a pensar. Penso nessa vida engraçada, nesse povo camarada e nessas árvores que criaram minha infância. Nas páginas já preenchidas desse interior molenga e sabidão. Na fé e nas igrejas construídas por mãos de homens bons, de imensa conexão com o alto e as crendices deixadas pelos povos antigos, que iniciaram o saber, o que é realmente bom. E basta só chegar o fim do dia e os bons ventos trazem a confirmação, de que as ruas continuarão as mesmas, as pessoas com suas falas e a igrejinha se abrirá para receber as orações. Preces de gente interiorana, que adquire genuninamente por este nome o contato com seu próprio interior, procurando viver do amor e tecer amizades eternas. É uma vida engraçada mesmo, sabe? Não tem ritmo e, às vezes, nem cor. O movimento é parado, as frutas apodrecem no chão, mas a gente não muda, não. Na tristeza, na dor, no riso e no bom "causo", tudo só é engraçado, só uma cidadela perdida no meio do nada. Ô vidinha engraçada essa, sempre risonha, sempre pacata... guardando seus anos de história e escrevendo novos "causos" para que, numa noite quente e recolhida, sem acontecimento algum, narrar contos de chegadas e partidas para ouvintes sedentos de mundos paralelos e de diálogos com a imaginação. Sedentos de viver suas vidas além das fronteiras da razão. Ô interior bom.




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