sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Menina Jabuti.



Todos a achavam estranha. Ela não correspondia ao conceito humano criado para definir o que o coletivo desejava. E ela não gostava do aglomerado, do imenso coletivo da reunião do ser e do ter. A menina não queria ser gente, queria mesmo era ser jabuti. Desejava por todos os seus dias ter uma carapaça, enfiar-se nela e não digerir nenhum dilema imposto pelo inesperado mundo. Feliz mesmo, era ser jabuti. Quando vê o perigo, velozmente esconde-se no seu esconderijo, quando tem chuva guarda-se bem perto do ventre e, quando não há ninguém, ela tenta sair do seu casco bruto, sentindo calmamente os raios solares atravessando o céu azul e límpido da atmosfera. Mas a grande verdade é que a menina queria ser jabuti, porque não sabia voar. Ela não conseguia movimentar suas asas, por isso, sendo jabuti, encontraria o aconchego de uma carapaça para lhe esconder dos seus medos, do que a machucava, das palavras que a julgavam sem a conhecer. A menina era mesmo jabuti, não tinha forças para abandonar sua carapaça - a proteção que a guardava diante aquela estranha sensação da dor. A carapaça a abraçava quando ela medrosamente tentava conhecer o complexo universo do crescer e aprender, partindo do mais difícil dos saberes: o de conhecer a si mesma. Mas não tem jeito, não. A menina tentava sair, mas quando via o sol, buscava logo sua carapaça, vendo de longe apenas vestígios de uma bela luz amarela e alaranjada que aquecia seu corpo, mesmo estando tão distante. Ser jabuti era bom, quando tentam a ver, logo a carapaça lhe defende. Mas a menina queria mesmo era usar suas asas e aprender voar como Fenão Capelo Gaivota, a gaivota do amor. A menina queria mesmo era esticar-se no horizonte e descobrir todo o universo, abandonando sua carapaça e encontrar seu centro e equilíbrio. Porque encontrando seu centro, encontraria ela mesma e não precisaria mais de carapaças. Mas por enquanto a menina estava só, com sua carapaça protetora, e enormes sonhos no coração, que a convidava para usar suas asas e partir da solidão, viajando pelo incrível e necessário mundo que exige o crescer, o compreender, para no fim encontrar a estrada da verdadeira evolução. Mas a menina ainda era jabuti, "A Menina Jabuti", buscando somente um jeito de libertar suas asas e voar, voar, voar.


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