quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Valor Contemporâneo do Humano Produto.




A inovação e abrangência do mundo contemporâneo fez emergir a ideia de que nenhum sistema de segregação e opressão cultural ou social poderia voltar a determinar para sociedade as diversas proibições e prisões sociais do ter e do ser que, por diversos períodos, a humanidade enfrentou. A esperança de viver em uma realidade de discursos abertos, de independência, onde se faz e pensa o que se quer,  apresentou-se como luz aos homens modernos que acreditavam que nenhuma espécie de valor majoritário dominaria a sociedade. Um mundo que, teoricamente, seria livre para acionar qualquer desejo e realizá-lo sem impertinências alheias. Mas apesar de todos os frutos libertadores que a contemporaneidade propiciou (resultado de lutas passadas e de transformação social) os seres humanos ainda são subjugados e, pior, não percebem e, se percebem, preferem não depor contra esse sistema de formação de alienados. Os cidadãos afirmam serem livres e independentes, mas toda a sua força de trabalho é aplicada para produzir seu capital, que comumente é voltado para se impor no coletivo. Vence quem mais tem. A moda é o principal exemplo disso. A função de vestir-se é social e segundo os valores que criamos, moral. A ausência de roupas, na ideia de nossa razão, torna o indivíduo imoral  e vulgar, senão um louco que não é mais dono de si. Há exceções. Os índios, não se vestem, mais como desde os tempos mais remotos fora assim, a sociedade os define como unidades culturais, em que a rica cultura dos "primitivos" brasileiros deve ser considerada resultante de um comportamento cultural. Mas a moda, fora dessa realidade bonita e amoral de tribos e aldeias, surpreendentemente subjuga o homem e o faz sentir-se inferior ou superior de acordo com o que veste. Intrigantemente, na dita era da liberdade, somos ainda presos por conceitos impostos pela classe alta (uma minoria em relação a grande massa), sobre o que é bom ou ruim. Vestir roupas de grife e alta costura valora o homem de uma simples inferioridade social para alguém que deve ser respeitado, enaltecido e comentado no seu meio social. Consequentemente, o homem, que acha que vive plena liberdade, aplica toda a sua força de trabalho arduamente para reverter toda sua renda para conquistas materiais que proporcionam prazer mais para o coletivo do que para si, já que consome o que o outro define como qualidade para que possa ter status e as mais variáveis designações materiais.



Os seres humanos atualmente não são subjugados apenas por líderes e por uma política centralizadora. São subjugados, em absoluto, por seu complexo de inferioridade social e material. Nesse sentido, as roupas, aparelhos e produtos diversos tornam-se mais relevantes que a natureza humana, o ser humano. O valor de ser ser humano está se tornando gradativamente menor do que o valor de ter produtos humanos. O acúmulo define o valor humano e toda matéria cria novos padrões sociais de comportamento e aceitação social. Dessa forma, as pessoas tem sido tratadas sem qualquer valor humano quando não possuem uma estrutura material; perdem seu valor humano por não conhecerem estilistas, não terem capital para comprar uma indumentária de alta grife ou não realizarem todas as atividades da "classe alta". Nesse sentido, a pobreza e a falta de matéria são tratadas como uma anomalia social e defeito pessoal. A televisão explora a imagem do pobre, o ridiculariza como uma vergonha social. Na tv, qualquer programa humor usa como temática principal a "falta de noção do pobre de se vestir". Suas roupas são demonstradas como indevidas e espalhafatosas, mostrando o exemplo da ridicularidade de quem não sabe o que é marca, grifes... As piadas surgem associadas com o comportamento do pobre, o descuido físico proveniente da falta de dinheiro e os espectadores divertem-se com a inferiorização do outro. Na era da discussão e estudo sobre o "Bullying" nas escolas, o adulto pratica com sua faixa etária definindo com um belo momento de lazer. Não consideram o fato de que essas pessoas sofrem por serem considerados (pelo ignorante valores sociais) como "feios", "magrelos", "gordos", "sem cultura", "burros" e "banguelos"... É o produto que está valendo mais que seu autor: os homens.




O comtemporâneo trouxe a liberdade de escolha, de vida, mas os humanos ainda seguem as leis e as regras dos que definem que o importante é ter e acumular. Ocorre que atualmente a matéria, roupas e produtos diversos tem mais função do que facilitar a vida social. Ela criou seus próprios valores. Depois de tantas subjugações desumanas e incongruentes, vivemos na "Era das Ignoranças", em que as coisas  tem mais valor que a vida e se os cidadãos não compram tais coisas ou não as podem ter, são condenadas ao massacre e  mediocridade do status sociais, tratando gente como máquinas e agrupando o que é ser rico, pobre, da moda, da confecção e do que pode ser respeitado e do que pode ser inferiorizado. É a humanidade segregada não por um, mas pela coletiva pobreza racional dos seres humanos sempre querendo superar o outro, o mundo e determinando um padrão social baseado no valor (excedente) do homem de posses materiais e do valor (pequeno) do homem sem posses materiais. É a nova sociedade formada de homens que valorizam tanto a matéria, que tornaram-se produtos dela, verdadeiros humanos produtos.





2 comentários:

  1. Olá, Daiane.
    Você está certa em reclamar.
    Eu também reclamo.
    Penso que esse reclamar já é bom sinal. É muito cruel pensar em evolução com tanto o que há para fazer, mas... Fazer o quê, não é?
    Procurar ser o melhor ser possível; ter o que for necessário ter e diante a escassez, é melhor quando já sabemos que primeiro é preciso saber ser. Que bom que já sabemos disso. Muitos não sabem, mas vão aprender.
    Estou apenas concordando com você que é preciso mudar o pensar.
    Abs.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Daiane! Tudo bem?

    Adorei esse novo espaço, realmente vc tem razão, me encontrei aqui em seus textos! Excelentes reflexões! Parabéns!
    Vc demonstra muita inquietude com um sistema de coisas que nos oprime, nos enclausura numa sociedade altamente impositiva!
    É preciso que haja um resgate dos valores éticos e morais, onde ser melhor não significa ter mais que o outro!


    Vou apreciando seus textos aos poucos, são muito bons!!

    Abraço!!

    ResponderExcluir