segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Curso do Rio.



A vida é um rio, um rio longo e infinito. Cada molécula de água são as diversas e amplas experiências que o rio acumula durante seu curso, as largas margens são as limitações: as limitações de todo o ser. Toda vida do rio baseia-se nos sentimentos, os sentimentos que o rio conquista ao entrar em conexão com o outro. Há sentimentos raivosos, que brigam para sair do rio, machucando suas margens, há sentimentos puros, que querem deixar a água cristalina, límpida e generosa para o visitante nadar ou deslumbrar-se com a pintura mais linda feita pela natureza. O curso do rio é sua estrada. Estrada de pedras, de terreno plano e medidas disformes. Quando o rio encontra uma pedra, não gosta dela; ela atrapalha seu curso, não se move do lugar. Desde o início as pedras deixam claro ao rio: nao sou eu que vou mudar, a mudança será feita por você; a mudança é você. E então o rio briga por seu caminho, passa por cima da pedra, a molha sem cessar. A pedra ganha sua água e o rio aprende com sua pedra. Uma simbiose que auxilia o rio a modificar-se. Há tempos em que o rio só encontra solo desejoso, uma calmaria silenciosa e um sol perfeito para lhe iluminar. Mas o rio é vida aprendente, tem inúmeras tempestades a lhe maltratar, suas águas ficam constantemente inquietas, o seu eu busca a quietude e não suporta seu volume, seus sentimentos e todo aquele pesar. A calmaria mostra um átomo do que seja a paz e a tempestade mostra que o rio ainda tem que a ganhar. O rio não é paz. O rio não tem paz. Seu curso ainda será longo e infinito, combatendo suas margens e aprendendo com suas tempestades para que um dia, o rio não encontre mais pedras, nem dias de fúria para se queixar. Então o rio não terá mais margens, não conhecerá mais pedras: já aprendera com todas as barreiras apresentadas, já aniquilou seus sentimentos raivosos. A vida continuará ser longa e infinita e mesmo que por fora de suas margens reine o volume e a desordem, ela é límpida, luz no universo, não tendo mais parâmetro para igualar. Será só uma luz, luz a iluminar os rios que ainda estão cheios de pedras; rios que não aprenderam com o curso do rio: o mestre rio que nos prepara para a liberdade verdadeira, que tem como norteadora a paz incomparável da conquista da sabedoria livre, eterna e reflexiva do viver, amar e da liberdade plena dos que já cumpriram o curso do caminho, o curso do rio.




Um comentário:

  1. Daiane,
    De acordo com o que disse, logo penso, o rio só tem uma teimosia que vem da mesma fonte de querer viver: juntar-se a outros para encontrar o mar.
    Não se importa com a barragem, nem com o que vai carregar.
    Abs.

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