quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Seu Nome Era Comum.




 "Os Retirantes", de Cândido Portinari, 1944.



Seu nome era comum, todos sabiam e partilhavam
Tinha uma casa pequena onde vivia e pouco descansava
De dia saía cedo e à noite para casa voltava
Com muito cansaço no corpo e os desgostos que passava



Nutrindo o orgulho ferido e o medo de "chibatadas".
Era uma época estranha, época de escolher candidatos
Candidatos para um tal de Legislativo
Que organiza todo o Estado.



De política nada entendia, mas sabia de sua parcela
Pagava imposto mensal para manter sua bagatela
Do trabalho, não se ausentava, mesmo não tendo bom ordenado.
Ordenado que comprava pouco e lhe dava apenas um punhado



Médico, dentista e professor, só quando o Estado dava,
Pois o punhado que tinha, mal lhe vestia e alimentava.
Educação, saúde e cultura, já tinha ouvido falar
Nas aulas que assistia na escola, antes de labutar



Mas não tinha muito estudo, pois de um tudo faltava
Por isso mal escrevia, pouco conhecia ou  falava
Agora tinha que votar, um voto para Prefeito e um para Vereador
Novas leis criariam para no município determinar



E para as mãos desses homens seu punhado iria parar.
De seu punhado, disseram, que iriam usar:
Para fazer hospital e escola para lhe auxiliar
Assim não veria mais filhos morrer, não



Pela falta de médico e remédio que carece toda nação
Seu filhos iriam estudar e na escola aprender.
Já passara por tantas idades que já sabia votar
Votou tantas vezes que desistiu de esperar,



O tal do Prefeito que prometia tudo mudar
Criando dignidade e trabalho para ofertar.
Já lhe disseram tudo, prometendo novo mundo,
Habitação, estudo e o surgimento de nova condição.



Já sonhou ter sossego, sem medo de perder emprego
E não ter que pedir esmola ou roubar seu pão.
Mas o tal do Prefeito e Vereador que sempre vota
Promete vida de glórias, melhoras e evolução



Mas quando vira Senhor Prefeito, se tranca na sala
Não abraça mais o povo e cumpre nada, não.
Então, se faz mais quatro anos.
Mais crimes e revoltas e desassossegos



Escolas sem livros e mais gente pedindo arrego.
O tal do Prefeito só fala e o Vereador, trabalha, não.   
Só escrevem leis que exigem da população.
Do povo que até abraçou para pedir votos



Visando ser eleito e manter o seu mandato
Para tirar do povo subtrair seus espaços.
De tanto trabalhar não tinha mais esperanças, não
Não acreditava que voto podia mudar uma nação



Muito menos das melhorias que para ele falavam
Garantindo que pelo voto se exercia a liberdade.
Seu nome era comum, todos sabiam e partilhavam
Chamava-se cidadãos e impostos pagavam



A fim de garantir um mínimo que sempre acreditara
Daria dignidade de  vida àqueles que amava.
Já era tempo de voto e não sabia em quem votar, não
Sua esperança era apenas de manter seu pão.



Educação, cultura, saúde, não sabia o que era
Mas sabia que esse tal de voto, nunca lhe trouxera.
De dia trabalhava, de noite pouco descansava.
Para ganhar um punhado que muito não ajudava.



Lhe disseram que a lei obrigava a votar para ser cidadão
Que era precisa votar para consertar a nação.
Agora chegava à eleição e dele lembrava
Não para melhorar sua labuta ou melhorar sua jornada,



Mas para garantir o tal do voto que faria um senhor Prefeito
Que mandaria na cidade e determinaria seus direitos.
E o manteria no local que a sociedade lhe pusera
De pobreza e exclusão, sem privilégios e acessos.



Que vida sofrida, cumprida e danada!
Sem fins nem meios de decidir sua jornada
E bem que ouvia falar numa tal de democracia,
Que dizia que era o povo que tudo decidia.





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