segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Apanhador no Campo de Centeio.






O livro "O Apanhador no Campo de Centeio", do escritor americano J. D. Salinger estava inserido na minha extensa lista de livros que desejo ler arduamente. Publicado em 1951, li críticas sagazes sobre a obra, desde as opiniões negativas sobre a linguagem da obra, à influência que ela causou na sociedade, de várias maneiras. Conhecido, também, como o livro preferido dos assassinos de John Lennon e John Kennedy, o livro desperta curiosidade em toda a sua formatação, desde a reação dos leitores à obra  ao título da mesma, tão sedutoramente enigmático. Iniciada a leitura, ficou absolutamente compreensível entender e definir o poder de ação do livro. A história é do jovem  Holden Caulfield, dezessete anos de idade, rico, de conduta rebelde e linguagem esculachada. Holden caracteriza-se por ser um jovem imaturo, sem grandes experiências, mas já extremamente cansado da vida que tinha. Possui uma personalidade semelhante a muitos jovens, principalmente adolescentes. Para ele a vida era uma tremenda de uma hipocrisia. As pessoas, à escola, sua família, sua vida, em tudo podia listar (em excesso) características negativas, definindo tudo e todos por um prisma obscuro, falso e doente. As únicas pessoas do seu mundo de negações que via com certo otimismo era sua irmã caçula, Fhoebe e os  irmãos D.B e Allie, este último sempre em remotas e profundas lembranças, já que falecera na infância.






Toda história de Holden é contada a partir de seus pensamentos e ideias sobre um mundo que detestava: sua realidade. Estudante de uma renomada instituição para formar garotos de classe alta, o "Pencey", Holden se prepara para deixar à escola por ter sido reprovado em quatro matérias. Não fora a primeira vez. Já havia sido expulso de outras instituições de ensino, ratificando ser dono de um comportamente inadequado e inadaptado as burocracias e tendências da época. Tudo lhe afligia: a hipocrisia das pessoas, a necessidade do luxo e dinheiro, o isolamento e solidão das instituições de ensino e até mesmo a arte, o cinema e a atuação, que considerava um mundo de ilusões e falsidade. Detestava, sobretudo, a exclusão que ocorria nas instituições que estudava. Toda visão de Holden sobre as coisas, o mundo, é apresentada quando decide deixar à escola e fica vagueando pela cidade de Nova York, em cortiços, com pessoas com todos os tipos de comportamento e vícios, prostitutas, alcoolistas, em que todo seu tempo era empregado para beber, fumar e libertinadamente tentar viver sua sexualidade. Holden não é um santo. Longe disso. É  um jovem fora das leis morais e éticas impostas pela sociedade. No duro (linguajar tão apreciado por ele mesmo) era um ser humano cheio de vícios, corrupções e desejos que prejudicavam a ele e aos outros. Era mais próximo de nós do que qualquer personagem irreal e romanesco.







"O Apanhador no Campo de Centeio" narra a dificuldade de crescer e a negação do personagem a esta nova vida, a adulta. A música ou conto de que gostava "Apanhador no Campo de Centeio" era a única vontade que nutria na vida. Sua ideia de felicidade era ser uma apanhador no campo de centeio e segurar as crianças que pelo campo corriam, a fim de que elas nunca caíssem no abismo (vida adulta). O próprio Holden, a partir desta parábola, revela seu desejo de não crescer, não adaptar-se ao mundo e não seguir todas as regras. A transição da adolescência para vida adulta representava para ele uma horrível passagem e a vida adulta, uma futilidade e hipócrita forma de viver. Holden, de maneira impressionante, não comportava-se com rebeldia na exteriorização de suas palavras. Sua mente era rebelde, mas nunca conseguia dizer algo terrivelmente febril a alguém. Uma contradição em pessoa.






Usando uma linguagem inovadora e perniciosa à época, apresentando as angústias e vícios de um jovem, o sexo sem compromisso com a opinião pública e as normas, e o mais profundo vazio e desesperança de um adolescente que, apesar de ainda não ter vastas experiências, já encontrava-se sem sonhos e perspectivas, "O Apanhador no Campo de Centeio" tornou-se livro universal pela similaridade com o homem e não com seu tempo. É uma obra atemporal. A adolescência e as crises que nela os jovens enfrentam para fazer o rito para fase adulta e os limites e dificuldades que a mente e a personalidade enfrenta para fazer-se forte e madura, ainda, está presente em todas as gerações. Salinger, com um texto cínico, provocativo, esculachado, absolutamente informal criou uma obra - apesar de uma linguagem aparentemente despretenciosa - complexa e única, em que por mais que o leitor não se identifique e compactue com as atitudes de Holden, não consegue não acompanhar o personagem, desejando a cada capítulo saber qual será o fim da jornada deste jovem tão pernicioso e infeliz, mas cheio de dilemas e buscas, como todo ser humano.






Em um mundo cada vez mais capitalista e segregário, vazio em suas buscas, que gera neuroses e angústias profundas para o ter e ser, " O Apanhador no Campo de Centeio" sintetizou e sintetiza a sensação de vazio que muitas pessoas ditas modernas abrigam, em que os sonhos, vontades e felicidades não representam a realidade, a existência do indivíduo. Um livro complexo, penetrante, com personagens moralmente pobres, em que a curiosidade sobre o comportamento dos personagens vigora durante a narrativa  e o (talvez) repúdio ao mundo estranho, imoral e medíocre de Holden acompanha o leitor pela obra. Um pobre garoto rico perdido em seu próprio mundo de mazelas, nos deixando com a sensação que muitos são os Holdens que ainda vivem na sociedade.








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