sábado, 3 de dezembro de 2011

O Velho e o Mar.



O velho gostava daquele mar incógnito, distante e raivoso. Olhava para longe e esperava algo acontecer, como se toda aquela quantidade infinita de água guardasse um segredo ou felicidade a ser desvendada. O velho era do mar e ele acreditava fielmente que o mar era dele. Mais que isso, que o mar fora feito para sua contemplação religiosamente diária. Acordava cedo, buscava localização segura para higienizar-se e tomava um punhado de café preto, quente e amargo. Amargo como a vida que levava sem seu mar. Quando o escuro se despedia e o sol alcançava a costa, via seu barco nas margens; um barco velho e gastado por um tempo incalculável de jornadas que traçava em suas tempestades em busca de seu "peixe grande". Criava metas, sonhava com o impossível e podia, muitas vezes, se ver atravessando na extensa faixa de areia arrastando um ser grande, natante, que demonstrava ser um lutador nato, que brigara com ele para não sair do seu lugar, do seu divino mar. Sonhos distantes em que via (cheio de ego) toda comunidade da costa lhe cumprimentar e parabenizar por um feito comum, mas que para ele representava o mais doce sonho vivido: o sonho de sua existência.





Era um velho estranho, esquelético e sagaz, com proporções corpóreas disformes e um único amigo na vida: aquele menino pequeno, bondoso, que lhe guardada comida e uma profunda amizade. Um menino que era do mar e que a ele servia, para ser sempre servido. Ambos se uniam com a mesma força, o mesmo gosto e a mesma paixão: o mar. Seu mar. Um mar que ofertava belezas diversas, tempestades constantes e alimentos abundantes para uma população corriqueira, sem metas e medidas, mas atuantes em suas necessidades e buscas, não esquecendo nunca de cada tarefa a realizar, como pescar e preparar sua ceia. O velho era formado por sua aldeia, seu povo, seu menino e seu mar. Queria ter um único feito na vida: pescar seu peixe grande e, depois, nem sabia mais o que desejar, o que poderia mais querer dessa vida curta, em que o disfarce do amor é vendido, a felicidade comprada e as ideias já formadas e enquadradas sem o homem pensar.




Era um velho saudoso de suas águas, sonhador convicto e amigo de seu amigo, o menino mais bondoso das historietas sobre um homem e um sonho. Um velho que partiu para longe da costa, encontrou seu sonho da forma mais viva que alguém poderia achar e lutou por ele como um guerreiro forte - embora todas as condições fossem contrárias. Um velho que retornou mais magro, com seu barco ainda mais "capengado" e com seu ideal puxado pelas costas. Arrastando seu peixe como trofeu e finalizando uma narrativa bonita não por sua complexidade, mas por apresentar da forma mais simples possível um velho, um sonho e um surpreendente mar.



Minha homenagem a obra mais encantadoramente simples e genuina (por isso rica e complexa) que a literatura norte-americana escreveu "O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway. Um velho, o mar e, principalmente, um sonho.




Um comentário:

  1. Ai que lindo, gostei demais! Ainda não li a obra, mas depois dessa homenagem singela, preciso ler logo!! XD

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