segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ser ou Não Ser, Eis a Questão.




Ter identidade e posicionamento social é algo absolutamente complexo.
O variável não pode fazer parte do ato de ser e estar no mundo. É preciso ter passos sólidos, partido político definido, ideias determinadas e valores definidos do que seja correto e incorreto. O indivíduo sempre será definido como politicamente correto ou um imoral absorto em torpezas, será um santo ou pecador, religioso ou ateu. No decorrer da formação moral e social, o indivíduo percebe que obrigatoriamente deve definir-se integralmente para ser uma figura quadrada e visível no mundo, se não, será excluído dele. Observadora do mundo e das coisas, a mente aprende que precisa ser uma criança boa e educada, um adolescente propício a ter um excelente futuro e um adulto de sucesso, que preencha todos os requisitos de admiração social: ambição, modelo e estabilidade. O sistema exige, o homem se torna. O sistema decide a felicidade, a matéria, a escolha e permeados de tanta influência, não é percebível que tais escolhas já estavam prontas e moldadas, restando a nós somente a parte de enquadrarmos no sistema.






Ter uma profissão (de preferência com status sociais e renda elevada), uma religião cristã, que não afete e contrarie o coletivo e não questione as determinações alheias, um comportamento comum (já que o que difere amedronta psicologicamente a sociedade), são tarefas a serem cumpridas desde que o indivíduo compreende seu meio social, familiar e profissional. Na formação intelectual o indivíduo busca informação para excecutar um ofício, na formação de uma unidade familiar eles se tornam pais, mães, tios... de forma que a vida e a sociedade ensinam que, de alguma forma, definir-se através de um dado, título ou ação é um tipo de obrigatoriedade para viver no coletivo. O indivíduo se torna múltiplo, com designações, muitos papéis a cumprir, mas pensar e escolher, na sua forma mais verdadeira, não são atividades exercidas, pois não precisamos pensar. Precisamos apenas repetir valores estabelecidos, buscas repetidas e ações de cunho social e profissional que já foram idealizadas desde tempos de outrora. O porquê das nossas buscas, a importância (ou não) delas e o que seja a verdadeira felicidade, não sabemos. Não perguntamos para ninguém, muito menos para a principal pessoa interessada: nós mesmos. Ter personalidade, na visão do outro, é absolutamente fácil. Basta ser, pensar e valorar as coisas e o mundo de acordo com a maioria. Ter personalidade, dentro do patamar mais particular do espírito, exige reflexão, questionamento e racionalidade. Exige a permissão para o erro e o prosseguimento para construir o outro, a si e o mundo. Se ter uma identidade moral definida é andar profetizando convicções e certezas, creio que o convicto é um grande mazelado, proibido de pensar, modificar seus valores e poder reconhecer-se como errado, como ser que precisa ouvir e refletir para construir sua opinião baseada na análise do seus atos, pois sempre deve ser uma unidade intransformável na visão alheia.






Se o tempo continuar passando freneticamente e eu não me encontrar, formando uma opinião decisiva das coisas e do mundo, talvez seja porque não preciso achar o que os demais idealizaram para mim, sem mesmo me conhecer. Se o tempo passar e eu ainda não saber o que sou, quero e o porquê de tudo, devo aceitar que a normalidade está naqueles que são formados mais pelas dúvidas do que pelas definições. Que eu possa lutar para não ser mais uma "ficha no mundo", contendo meus registros, a profissão que escolhi, o instituto que labuto, minha renda anual, o marido escolhido, a quantidade de filhos e uma religião para frequentar semanalmente. Que eu possa me lembrar de Deus fora de um templo, fazer o certo enquanto os olhos dos demais não me alcançam e ser um tipo de gente que não acha que as pessoas só devem ser respeitadas pela sua casa, roupa  e posição que ocupam. Que eu possa trabalhar transgredindo a mediocridade, o óbvio e a necessidade do tratamento elevado, não preocupando-me com estimas, mas com o que aprendi, o que aprendo e o que posso aprender (e ensinar). Que eu possa errar e acertar, e aprender por estes dois caminhos, que apesar de diferentes, conduzem a mesma condição:aprendizagem, mas não deixe meu espírito medíocre, quieto, lapidando, diariamente, as grandes mazelas que tenho dentro de mim. Eu não sei, mas estou aberta a compreender. E é aí que começa todas as grandes jornadas. 






Um comentário:

  1. "Que eu possa trabalhar transgredindo a mediocridade, o óbvio e a necessidade do tratamento elevado, não preocupando-me com estimas, mas com o que aprendi, o que aprendo e o que posso aprender." (palmas)

    De todos os seus textos, talvez esse seja o mais completo, o mais consistente, com os dizeres mais sólidos. Parabéns!

    Bjoo!

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