sábado, 8 de janeiro de 2011

Palavras.



No início, tudo era poeira, partículas diminutas lançadas por todo infinito universo. A atmosfera era quente, o ar se condensava pelos cantos e tornava-se rígido à medida que o destino se preparava para ser uma unidade nova na imensidão negra que continha matérias brilhantes e saltitantes. Tudo tão lindo! Mágico como uma alquimia preparada pela força inteligente desejosa de criar vidas e fazê-las maiores que a simploriedade de qualquer caracterização considerada existente. Logo, a solidez se estabeleceu, a temperatura já não mais feria e os pingos de matéria líquida viajaram na atmosfera, voando como pássaros rápidos para encontrar seu lar. Chegaram. Dominaram a litosfera. Preencheram as erosões e excessos de vazio que deixava o relevo ainda desordenado, procurando sua forma. Por passos lentos a vida formou-se; dependendo da solidez de algumas matéria e da forma líquida das demais que uniram-se para receber algo complexo, espetacular, que podia movimentar-se, alimentar-se e organizar-se em substâncias nunca antes vista. Substâncias estranhas. Substâncias evolutivas. A poeira desenhou-se em globo e, por seu esforço e luta, destinou-se em um evento maior, ganhou um presente: a vida. Uma vida estranha, demasiada estranha; ela evolui e cresce, altera-se em formas diversas e ganha características desiguais e manifesta-se de muitas maneiras. Seus corpos são inúmeros, singulares. Por tanto se alterar, a vida deu origem a uma unidade primordial. Uma vida capaz de criar palavras, falá-las e escrevê-las. Uma vida possuidora de um sistema que compreende seu meio, modifica ele e entende sensações; entende mecanismos não só físicos, mas os impregnados em alguma parte da alma: os sentimentos.




Então, a vida latente, formada naquela primitividade, pôde evoluir. Não só a sua complexidade celular, mas a sua estrutura espiritual. As palavras que nasceram com essa estranha vida de bípedes pensantes representam à força que estes viventes racionais necessitam para alcançar o supremo fim da jornada desconhecida, mas já informada. A palavra é a ferramenta de trabalho, abrigada na inteligência dos seres racionais, para desvendar seu próprio destino, para mapear sua própria história. As palavras criaram ciências, criaram números, descobriram as morfologias e fisiologias dos seres. Pelas palavras, o bípede pensante desenvolveu ofícios, construíram moradas e puderam organizar sua intelectualização, buscando um caminho para moralidade do respeitar e amar seus iguais e seus diferentes. Palavras. As palavras saem da alma, ganham som na boca, desenham-se nos papéis e crescem no coletivo, resultando em inteligências, conhecimentos, sensações e sabedorias que formam a vida do bípede pensante que vive em grupo e necessita de sua comunidade. As palavras são a certeza da inteligência, são filhas da comunicação, e, mesmo quem não pode tirar as palavras da boca ou escrevê-las, as têm dentro da alma; as nutrindo de vida e da estranha necessidade de ter e buscar entendimento.




No início, tudo era poeira, partículas diminutas lançadas por todo infinito universo. No meio tudo era solidez, com grandes descobertas e vidas ganhando formas. Na eternidade, tudo será palavras. Palavras que explicam a vida, palavras que definem a força suprema e criadora de tudo e todos. Palavras que cientificam os bípedes pensantes sobre sua verdadeira natureza e os elucidam para o patamar nobre dos seres angelicais, das palavras transcendentais e avessas a qualquer torpeza. A palavra é a força inteligente que conversa com o homem e o faz ter certeza de não ser mais uma vida latente, de não ser uma vida livre e uma luz eterna e sábia, mas de ser, ainda, uma vida caminhante, escassa de muitas palavras e lições para ser a inteligência bondosa e sapiente que foi criada para ser.

Palavras.




Um comentário:

  1. Oi, Daiane!
    A evolução das coisas é repleta de enigmas, mas é como você disse: “A palavra é a ferramenta de trabalho, abrigada na inteligência dos seres racionais, para desvendar seu próprio destino...”
    É muito bonito e profundo seu texto e pensamento, Daiane.
    Um abraço.

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