segunda-feira, 9 de abril de 2012

Que Falsa Elegância.


  




"Ao sentar-se, o indivíduo deve sempre atentar-se a sua posição corporal, não permanecendo em qualquer situação que traga inconveniências ao seu interlocutor; alimentar-se, apenas, estritamente apenas, com a adequação necessária à elegância que a conformidade pede; um andar específico, uma indumentária renomada, um estar e ser sempre com modos e elegância".



O comportamento acima explanado refere-se ao código de etiqueta criado para os homens conviverem em sociedade, de forma elegante e dita educada, sem ferir ou violar o código identicado por muitos como pura educação. Sempre achei tais designações de extrema pobreza e tolice, mas, ao deparar-me com tais dicas de comportamento fornecidas por um programa da tv aberta, retirei-me no recanto de minha mente para raciocinar a relevância ou não de comportar-se da forma indicada. E, como antes, cheguei a plena conclusão de que preocupações como essas, em um mundo de conflitos e privações, só refletem a mais pura ignorância e estreitamento de ver, julgar e viver à vida. Em meio a excedentes sofrimentos, doenças físicas, emocionais, sociais e (lamentavelmente) ambientais, ocupar-se de analisar e classificar a melhor forma de vestir-se, as marcas de produtos mais indicados e a elegância que cada classe social deve apresentar, é uma tremenda mediocridade.






Conceitos muitos mais profundos e concretos, em contraponto a etiqueta social, não são exigidos e trabalhados na sociedade. Ética, cidadania, generosidade, fraternidade, não são debatidos como temas essenciais à elevação humana e progresso moral. O povo, um grande rebanho de repetições de ideias e ideais, valoriza e copia o que dita os grupos definidos como mais importantes e influentes. Desse montante de produções surgem ditaduras de modismos. Modismos para vestir-se, alimentar-se e apresentar-se à sociedade, apartando indivíduos considerados de respeito e indivíduos retratados como bregas, indevidos e dignos de piedade. Que regras são essas, que denigrem a humanidade e desaproximam os homens dos homens?. No limiar dos meus questionamentos, não precisei prolongar-me na importância ou não de tais atitudes:o mundo fala por si. Como, na crucial realidade do mundo, poderá o homem importar-se com as medidas certas para um requintado jantar, escolhendo talheres e quais assuntos devem ser discutidos se, no mesmo momento, milhares de pessoas sofrem de fome? Não precisando nem definir-se como elegantes ou não, pois não terão alimentos nem objetos para classificar tal ordem.






Não muito distante dessa realidade de "elegâncias", podemos ver pessoas sem moradia, sem auxílio de políticas públicas que visem beneficiar e ofertar acesso a habitação e estabilidade de vida. Para tais indivíduos, não será necessário indagar se é elegante ou não manterem móveis de marca e pinturas refinadas em sua casa, pois não possuem a leve noção do que seja uma moradia e, consequentemente, um lar. O excesso de materialismo é a arma que o alienado se apropria para ferir os homens, os definindo com menor ou maior valor, introduzindo a ideia do moderno e elegante contra a pobreza dos que não sabem definir a moda ou o requinte e usá-los a seu favor.  Assim, vemos um grupo alienado e feroz discutindo sobre como portar-se, comer e vestir-se, enquanto milhares de miseráveis tem outras preocupações: se poderão ter alimentos para nutrir-se, se seus filhos poderão estudar, se suas dívidas poderão ser anuladas e se terão saúde, alimentação e dignidade.






Que pessoas são essas, senão de moral deficiente e inteligência pouco desenvolvida, que não são capazes de refletir sobre a imprecisão de tais atos e valorização excessiva destes comportamentos? Pessoas que  necessitam e exigem "fineza" para beber, comer e destinam suas vidas a relacionar-se com pessoas que possam aprender as regras do jogo e jogar com "classe e elegância". Vejo com olhos extremamente críticos essa nova formação de valores que tenta abafar nossos reais problemas, que julgam o homem e o critica não pela sua conduta e cidadania, mas pela formação de uma etiqueta que somente o excesso de dinheiro proporciona. Que temas são esses que perpassam os homens e os distancia de suas mazelas, não explanando a importância do pensar, analisar, auxiliar e transcender para uma moral realmente equilibrada e sensata?





Mundo de mentes alienadas que criam condutas estúpidas para segregar as pessoas, que define o homem pela sua capacidade de comprar e usar o dito elegante. Um mundo que cria sua  própria doença ao formar no limiar de sua moral, virulências que dispersam sobre o coletivo e determinam quem pode ser respeitado ou não. Uma elegância que deixa as pessoas com a indumentária perfeita, o alimentar educado e o sentar adequado, mas não introjeta nos homens a necessária prática da educação, da gentileza e do respeito ao próximo, independente da estrutura material ou não que o mesmo tenha para viver. Uma moderna elegância hipócrita que atrasa a mente para suas reais necessidades:o desenvolvimento da razão para emancipação da inteligência. Que elegância e classe são essas? Ensina ao indivíduo o respeito na mesa, o andar elegante e a adequada conduta social, mas não educa ao respeito ao próximo, a cidadania em grupo e como devemos, acima de tudo, ter educação, moral e virtudes. Uma grosseira e financeira elegância. Uma falsa elegância.





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