quinta-feira, 24 de março de 2011

Medo Que Algema a Alma.






Vivemos reclamando do sistema social, da desigualdade e como muitos fatores na vida em sociedade são delimitantes, nos separando por hemisférios, classe social, cor, profissão e gostos, mas nos esquecemos que quem faz esse sistema, o alimenta intensamente e o caracteriza, somos nós mesmos. Reclamamos de um universo que nós mesmos criamos - com leis, constituição e tudo -, nos sentindo aprisionados, estagnados e limitados para viver, crescer e progredir, depositando essa culpa nas mazelas e egoísmos da nossa sociedade. De fato, isso não é uma inverdade, mas, também, não é uma verdade absoluta. Muitas das nossas infelicidades são originadas de nossas escolhas, tendências e, principalmente, do medo e da insegurança. São esses dois sentimentos ou características, que tem criado grandes barreiras no momento de grandes escolhas. Ter medo é impedir-se de realizar planos, projetos, de arquitetar o novo e caminhar sobre o desconhecido. O medo é instinto e sumamente necessário para a nossa proteção, de forma que, ter medo, pode ser - a princípio - algo positivo, já que nos faz pensar antes de agir, esperar antes de se envolver; mas ele deve ter prazo de validade. Quando o medo alcança uma etapa que não pode exercer a dinâmica da ação e reação, a vida torna-se improdutiva. O medo e a insegurança tem gerado grandes doenças sociais e fraquezas pessoais. O reflexo dessas ações, opções, são negativas e degradantes, abrangendo todos os setores da vida do indivíduo. Muitas são as pessoas, por exemplo, que detestam seus empregos, não gostam das relações que vivem no trabalho, de exercerem  um ofício que não lhes preenche de paixão, conhecimento e produtividade, mas, como são partes de um sistema social e necessitam manter suas necessidades básicas, tem medo de buscar novas atividades e tentar o novo, a mudança. Então, o indivíduo se clamufla em profundas inseguranças, medos, insatisfação, falta de ânimo e, os desejos, planos, vão se escondendo num pedaço diminuto da alma, deixando que a felicidade seja uma sensação futura, distante do desassossegado presente. Claro, preocupar-se com o amanhã, ter um ofício e garantir sua subsistência, deve sim ser uma das prioridades do ser humano, mas aniquilar-se, matando a vontade de buscar o novo, não deve ser uma continuidade na vida emocional do indivíduo, que genuinamente nasceu para evoluir e melhorar.





O medo e a insegurança é um par tóxico, nocivo, que se prolifera pelo caráter do indivíduo, o transformando em coadjuvante da sua própria história. Ambos determinam uma condição perigosa aos propósitos do amadurecimento emocional e da experiência de vida: a acomodação. Nos acomodamos a diversas situações. Nos acomodamos a uma relação amorosa infeliz, pois nos acostumamos a conviver com o outro e o mesmo se torna um dos nossos pilares: nos sustenta. De forma que, como será nossa vida sem essa parte que já nos acompanha há tanto tempo? Muitos casamentos são assim, relações amorosas, relações trabalhistas, sociais...Temos o medo, o maldito medo de mudar e viver o que não conhecemos, o que, no princípio, aparenta ser grande demais para nossos pequenos passos. A verdade, é que o novo balança nossa estrutura, nos tira dessa acomodação e nos faz trabalhar em prol do que antes era só um desejo remoto, só um sonho para realizar no futuro distante. Diante dessa "transfomação gigante", preferimos nos guardar no nosso medo, que já é velho amigo, conhecido, e nos impedimos de viver novas experiências, saberes e adentrar no nosso próprio universo, para conhecer profundamente nosso defeitos, fragilidades e cada cantinho da nossa alma. O medo resulta em perdas; perdas que sequer conhecemos, pois não vivemos o perdido, mas sabemos que o perdemos;  perdas que vão se somando e deixando nossa carga emocional vunerável e saturada, nos aprisionando a viver nas mesmas escolhas, ritmo e condição, por termos insegurança de fechar um ciclo e iniciar outro, com suas possibilidades, sofrimentos e felicidades.





O fato, é que toda experiência é positiva, mesmo quando proporciona desprazeres. Se tudo é crescimento e somos a somatória de nossas experiências, e só com nossas experiências ganhamos sabedoria, logo, uma experiência negativa, é positiva, pois nos ensina a viver. Mas que viver, nos ensina a sobreviver num sistema alienado que criamos, que tanto nos pede, tanto nos tira e exige para que possamos ser aceitos nos grupos sociais. Cessar o medo e combater a insegurança, deixando-a só na quantidade certa para exercermos nossos instintos, é a grande meta para alcançarmos um patamar maior no desenvolvimento da nossa própria evolução moral; não tendo medo de buscar a felicidade, a solidariedade e, principalmente, a paz de espírito - que vem se tornando uma condição emocional difícil diante essa vida rápida e frenética. Deixar o medo e as inseguranças partirem, se distanciarem, é deixar os sonhos tornarem-se reais e materializarem-se no nosso cotidiano, permitindo que ele abandone sua condição de mero desejo e encontre a genuína sensação da liberdade e, consequentemente, o medo não seja mais um guia, permitindo que nossa coragem, desejo, sonho e querer alcancem o lugar apropriado na nossa existência: a liderança da nossa vida.





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