As imagens cruéis, violentas e absolutamente revoltantes que registrou a agressão que a enfermeira Camila Côrrea cometeu contra um cachorro, foram divulgadas por todas as mídias sociais, formando opiniões drásticas e críticas pela sociedade, devido ação cruel de uma mulher que, além de cometer um ato hediondo com um ser vivo, o fez na frente de uma criança, sua filha e, como fator questionável, é enfermeira, uma profissão eminente que em nenhum momento alude a ideia de desumanidade e crueldade. As pessoas (reagindo naturalmente a um ato de natureza criminal) apregoaram à mulher, tendo acionado a justiça para que medidas cabíveis fossem aplicadas diante as circunstâncias ilegais. Apesar de inúmeras opiniões, os fatos são estes: Camila foi absolutamente errada, o exemplo para filha foi negativo e situações como essas, realmente, merecem repreensão por parte da justiça. Mas há um fator inserido neste crime que é superior a esta mulher e a sua ação hedionda: há uma excessiva hipocrisia humana. Os animais desde o início da civilização (assim como a natureza) são usados e abusados em prol do desenvolvimento da sociedade - que define o crescimento social através de seu potencial econômico. Por mais que todo sofrimento animal tenha sido moderadamente mitigado com o decorrer da evolução moral, os animais, ainda, sofrem maus-tratos e são constantemente denegridos pela nossa espécie.
Os animais nos serviram e servem das mais variadas formas, desde tempos remotos. São utilizados como alimentos, meio de locomoção, como matéria-prima para produtos diversos, para pesquisas que visam testar produtos de uso humano... Sintetizando: os animais tornaram-se escravos dos homens e, sendo formados apenas por instinto, não podem sair de tal posição. A opinião negativa a atitude de Camila é reação natural diante comportamento errôneo, mas deve ser conscientizado que todos nós, também, contribuímos para os maus-tratos realizados contra os animais diariamente. No mesmo dia da divulgação do vídeo, quantas pessoas não se alimentaram de carne? Usaram maquiagens e produtos que certamente foram testados em animais? Quantos não consomem produtos provindos de origem animal, como roupas e objetos? Quantos, ainda, não pagam espetáculos de circos que usam animais de forma indevida? Quantos não apreciam o horror da cultura do Rodeio? O próprio sistema social criou vias de aniquilar a vida de animais que podem causar malefícios aos homens e a sua saúde, criando a "Zoonose" que investiga e rastreia os animais de rua, sem dono e, ao invés de tratá-los, os matam para não "prejudicar a sociedade", com o CONSENTIMENTO de todos. O vídeo da enfermeira causou espanto pois ela fez a ação com as próprias mãos, atingindo uma crueldade não "realizada" pela população todos os dias. Ao contrário de Camila, não matamos com nossas mãos, pagamos para que outros façam. É assim quando compramos carne e produtos a base do sofrimento animal. Todos nós somos reú nesse julgamento.
E, apesar dos inúmeros argumentos de que o cachorro é mais relevante que uma vaca e por isso a comparação seria esdrúxula, o conceito não pode ser realmente visto com seriedade. Em países ocidentais é natural comer carne bovina, mas não a de cachorro. Nossa cultura caracterizou o cachorro como "amigo do homem", separou animais para serem domesticados para consumo e serem domesticados para servirem a humanidade. Na India, uma vaca é sagrada, logo, seu consumo é um pecado. Há países que não definem o cachorro como animal doméstico, mas como comida. O fato é que todos animais deveriam ser respeitados, mas TODOS nós não respeitamos, de diversas maneiras. O fato de acharmos que o comportamente da agressora está distante do que nós mesmos fazemos todos os dias com os animais é uma tremenda hipocrisia humana. Nós, também, agredimos os animais. Talvez, não espancando até a morte, mas pagando pelo seu sofrimento e ainda pensando que nossa conduta está sendo mais ética do que a dessa senhora. Não estou defendendo a postura maldosa dessa senhora, mas querendo ampliar um olhar que adquirimos de que maus-tratos a animais se restringem em matá-los com as "proprias mãos" sendo que pagamos para assassiná-los diariamente. Se o mesmo é para ser morto ou somente membro de um núcleo familiar, será relativo a cultura do local, de forma que a espécie tem suas peculiaridades dependendo de como a região a trata; o aspecto não é humanístico, mas sim cultural. Fato este que faz com que o Brasil não mate e não aceite a morte de cachorros para consumo, mas faça uso de carne bovina, ao contrário de países que comem carne de cachorro e não bovina.
A humanidade deve compreender suas ações de forma abrangente para desmascarar nossas facetas incongruentes, mas que guardamos dentro de nós como sinônimo de normalidade; de necessidade. Os animais fazem parte da natureza, assim como nós, e todos precisamos dos recursos ambientais para viver e sobreviver. Julgar (fora de uma jurisdição) essa mulher e sua família querendo agredi-la é equiparar-se com o próprio comportamento realizado pela mesma, invertendo apenas o papel do agressor e vítima. Os animais devem ser respeitados e não nasceram para servir o homem (como o mesmo imagina). Que deixemos nossa excedente hipocrisia de lado, ou melhor, que seja excluída de nossa pequena visão e possamos ver com totalidade que também contribuímos diariamente para a morte, maus-tratos e degradação da vida animal. Direta ou indiretamente somos responsáveis por este absurdo humano.
Eis, aqui, uma pessoa que orgulha de ser vegetarina, mas é consciente de que ainda precisa aprender (e mudar) muito para alcançar o verdadeiro respeito aos animais.